As marcas do vento



Tal como o vento que nos últimos dias foi surgindo, também a vida não pára e nos arrasta para o turbilhão de ideias, acções e pensamentos.


Esta inconstância na minha vida, este estar sempre à espera da partida, do novo porto, faz com que a criação de raizes se torne tão intensa, mas ao mesmo tempo sem marcas... Marcas físicas, memórias para partilhar que não sejam apenas palavras, histórias.


Quando será a altura para parar? Como saberemos quando chegou o momento, quando é que chegaremos à terra prometida?


Olho para trás e vejo tantos locais magníficos, mas infelizmente também sei que assim como cheguei sem nada, também parti sem nada, excepto as histórias, as minhas memórias.


Elas irão sempre acompanhar-me, mas porquê este receio de deixar e ter marcas visíveis?


Porque se calhar os sentimentos são eternos, partilhamo-los quando e com quem queremos, fugimos como que envergonhados de todas as marcas que possam levantar questões inocentes, mas que tantas vezes não queremos responder.


Ver-nos retratados em coisas nem sempre é fácil, são outras formas de fugir, de nos esconder.


Nem sempre fui assim, despida de marcas, de provas do que fui, no que me tornei. Talvez esteja na altura de voltar a criar marcas, recuperar aquelas que já tive e de cabeça erguida mostrar o que fui, para com orgulho exibir no que me tornei.


Mas para que tenham valor, essas marcas não podem ser apenas objectos fugazes, têm de ter vida e uma parte de mim, só assim serão de e para mim.



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